sexta-feira, 28 de setembro de 2012

De comer e chorar por mais...


“Pela boca morre o peixe”, “os homens conquistam-se pelo estômago” ou “os olhos também comem” exemplificam a importância da comida na nossa sociedade.

A alimentação ocupa uma parte importante das nossas vidas e ela é dedicada muito tempo. A comida pode ser símbolo de status, tanto pelos restaurantes que se frequenta, como por aquilo que se consome. Exemplos disso são as reservas feitas com anos de antecedência em alguns restaurantes ou a ascensão de pratos como o caviar ou o foie gras. É perceptível a propagação de lojas gourmet, onde tudo tem um aspecto impecável e cada artigo é tratado como se de uma peça de alta joalharia se tratasse, única e preciosa.





O empratamento também pode revelar verdadeiras esculturas. A arte existe e respira aqui. A conjugação de sabores, cores e texturas com tal mestria, capaz de pôr o cliente a salivar só de olhar e de provocar nas papilas gustativas uma explosão, um frenesim tal que gera nada mais que prazer.

Não é à toa que comida e sexo andam de mãos dadas. Não é à toa que o verbo “comer” assume diversas interpretações.





A sociedade ocidental preconizou umas guidelines para um encontro perfeito que inclui um jantar, onde a sobremesa pode ser uma noite tórrida. Popularizou-se o chantilly e os morangos como acompanhamento de luxo, para forrar o estômago cheio de outras fomes ou para se incluir em brincadeiras.

Existe uma relação visceral, intensa e impossível de dissociar. Para provar, inicialmente, uma pequena trinca. Segue-se a degustação. De seguida, a satisfação e a percepção da mesma. Depois, repete-se e isso gera prazer. Sente-se o prazer a apoderar-se de nós, baixam-se as guardas e não se oferece mais resistência. Aprecia-se. E partilha-se. Talvez a partilha seja a melhor parte. E com o tempo, vamos refinando o gosto e apurando os sentidos. O que era bom fica fenomenal e torna-se imprescindível. Ao menos bom, muda-se a receita e alteram-se os ingredientes, tempera-se de forma alternativa. A inovação é importante: não deve ser estanque mas sim uma procura incessante do que nos dá mais prazer. Um pouco epicurista, talvez, mas a nossa natureza passa um pouco por aí.

Para os menos carnais e mais românticos, a doçura da lua de mel supre essa necessidade. A candidez, a inocência e declaradamente doce. A inocência esta algo ligada à baunilha, embora não concorde com tal. Para mim, a baunilha é sensual, embora não de uma forma exuberante.




Mais atrevidos, temos os condimentos: especiarias e ervas aromáticas. Imprescindíveis, adicionam um elemento de surpresa a qualquer prato. Um condimento é como a atitude (para os mais confiantes) ou como a lingerie, por exemplo (para os mais tímidos): pode fazer a diferença.

E os molhos? Os molhos que envolvem os alimentos, conferindo-lhes uma nova roupagem e dimensão, sendo o equivalente ao suor que dois corpos nus e juntos produzem. Facilitam a degustação e dão aquele “toque final”.

A maçã é mais uma prova da dualidade sexo/comida. O fruto apetecível que também enganou a inocente Branca de Neve, o fruto proibido, vermelho luxuriante, símbolo daquilo que é carnal, do pecado. É graças ao pecado da maçã, o original, que sofremos e ganhámos a condição humana tal como a conhecemos. Foi graças à maçã que renunciámos a uma vida de Paraíso eterno. Por outras palavras, deu-se a renúncia a uma vida sensaborona, mas estável e rotineira, por um momento de intenso prazer.





Não será isto que muitas vezes se passa nas nossas vidas, relativamente a vários aspectos? No fim de contas, o que vale mais? Será isto que diferencia viver e existir, o querer mais do que sopinhas quentes toda a vida?



A vida é como uma enorme cozinha. Temos a entrada, o prato principal, a sobremesa. Os pratos quentes e os pratos frios (um pouco de vingança, talvez…). Há que preparar os pratos., planear, testar. Muitas vezes vamos sair queimados, mas também iremos encontrar aquilo que procuramos, mesmo que implique uma busca incessante. E é disso que a vida é feita, de sabores, de tentativas e de criação. Porque cada prato é uma obra e uma extensão da personalidade. "Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és”.





PS: não podia faltar...





"Wrapped tight around me
Like a second flesh hot skin 
Cling to my body 
As the ecstasy begins 



Your wild vibrations 
Got me shooting from the hip 
Crazed and insatiable let rip 



And eat me alive 
Eat me alive 



Sounds like an animal 
Panting to the beat 
Groan in the pleasure zone 
Gasping from the heat "



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