“Pela boca morre
o peixe”, “os homens conquistam-se pelo estômago” ou “os olhos também comem”
exemplificam a importância da comida na nossa sociedade.
A
alimentação ocupa uma parte importante das nossas vidas e ela é dedicada muito
tempo. A comida pode ser símbolo de status,
tanto pelos restaurantes que se frequenta, como por aquilo que se consome. Exemplos
disso são as reservas feitas com anos de antecedência em alguns restaurantes ou
a ascensão de pratos como o caviar ou o foie
gras. É perceptível a propagação de lojas gourmet, onde tudo tem um aspecto impecável e cada artigo é tratado
como se de uma peça de alta joalharia se tratasse, única e preciosa.
O
empratamento também pode revelar verdadeiras esculturas. A arte existe e
respira aqui. A conjugação de sabores, cores e texturas com tal mestria, capaz
de pôr o cliente a salivar só de olhar e de provocar nas papilas gustativas uma
explosão, um frenesim tal que gera nada mais que prazer.
Não
é à toa que comida e sexo andam de mãos dadas. Não é à toa que o verbo “comer”
assume diversas interpretações.
A
sociedade ocidental preconizou umas guidelines
para um encontro perfeito que inclui um jantar, onde a sobremesa pode ser
uma noite tórrida. Popularizou-se o chantilly e os morangos como acompanhamento
de luxo, para forrar o estômago cheio de outras fomes ou para se incluir em
brincadeiras.
Existe
uma relação visceral, intensa e impossível de dissociar. Para provar, inicialmente,
uma pequena trinca. Segue-se a degustação. De seguida, a satisfação e a
percepção da mesma. Depois, repete-se e isso gera prazer. Sente-se o prazer a
apoderar-se de nós, baixam-se as guardas e não se oferece mais resistência. Aprecia-se.
E partilha-se. Talvez a partilha seja a melhor parte. E com o tempo, vamos refinando
o gosto e apurando os sentidos. O que era bom fica fenomenal e torna-se
imprescindível. Ao menos bom, muda-se a receita e alteram-se os ingredientes,
tempera-se de forma alternativa. A inovação é importante: não deve ser estanque
mas sim uma procura incessante do que nos dá mais prazer. Um pouco epicurista,
talvez, mas a nossa natureza passa um pouco por aí.
Para
os menos carnais e mais românticos, a doçura da lua de mel supre essa
necessidade. A candidez, a inocência e declaradamente doce. A inocência esta
algo ligada à baunilha, embora não concorde com tal. Para mim, a baunilha é
sensual, embora não de uma forma exuberante.
Mais
atrevidos, temos os condimentos: especiarias e ervas aromáticas. Imprescindíveis,
adicionam um elemento de surpresa a qualquer prato. Um condimento é como a
atitude (para os mais confiantes) ou como a lingerie,
por exemplo (para os mais tímidos): pode fazer a diferença.
E
os molhos? Os molhos que envolvem os alimentos, conferindo-lhes uma nova
roupagem e dimensão, sendo o equivalente ao suor que dois corpos nus e juntos
produzem. Facilitam a degustação e dão aquele “toque final”.
A
maçã é mais uma prova da dualidade sexo/comida. O fruto apetecível que também
enganou a inocente Branca de Neve, o fruto proibido, vermelho luxuriante, símbolo
daquilo que é carnal, do pecado. É graças ao pecado da maçã, o original, que
sofremos e ganhámos a condição humana tal como a conhecemos. Foi graças à maçã
que renunciámos a uma vida de Paraíso eterno. Por outras palavras, deu-se a
renúncia a uma vida sensaborona, mas estável e rotineira, por um momento de intenso
prazer.
Não
será isto que muitas vezes se passa nas nossas vidas, relativamente a vários
aspectos? No fim de contas, o que vale mais? Será isto que diferencia viver e
existir, o querer mais do que sopinhas quentes toda a vida?
A
vida é como uma enorme cozinha. Temos a entrada, o prato principal, a
sobremesa. Os pratos quentes e os pratos frios (um pouco de vingança, talvez…).
Há que preparar os pratos., planear, testar. Muitas vezes vamos sair queimados,
mas também iremos encontrar aquilo que procuramos, mesmo que implique uma busca
incessante. E é disso que a vida é feita, de sabores, de tentativas e de
criação. Porque cada prato é uma obra e uma extensão da personalidade. "Diz-me
o que comes, dir-te-ei quem és”.
PS: não podia faltar...
"Wrapped tight around me
Like a second flesh hot skin
Cling to my body
As the ecstasy begins
Your wild vibrations
Got me shooting from the hip
Crazed and insatiable let rip
And eat me alive
Eat me alive
Sounds like an animal
Panting to the beat
Groan in the pleasure zone
Gasping from the heat "
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