Terror. Uma forma de medo
exacerbada. É uma emoção primária e comum, consciente ou inconsciente.
Todos nós temos medos. Temos medo
do desconhecido, daquilo que não conseguimos controlar, dominar, compreender. O
medo também anda de mãos dadas com as crenças, com a religião: temos medo de
ser castigados e ir para o Inferno, temos medo da morte, temos medo do oculto.
Criamos superstições para tentar ganhar algum poder face ao medo que sentimos. O medo aparece muito associado à escuridão e à noite, simbologia do desconhecido e místico.
Temos medo de falhar, de não saber
corresponder às expectativas. Temos medo dos exames e das provas a que somos
sujeitos. Num outro domínio, temos medo dos mitos, das lendas. Medo de
fantasmas, de espíritos, daquele arsenal de criaturas como lobisomens,
vampiros.
Enquanto humanos, o medo também
existe nas relações. E é disso que vou falar.
Os solteiros
Alguns têm pavor de ficar
sozinhos, de “ficarem para tios”. O medo de nunca encontrar alguém e acabar na
solidão. De não haver ninguém “compatível”, o/a homem/mulher dos sonhos.
Outros têm medo do amor, do compromisso. De se
entregarem, de perderem a cabeça numa paixão efusiva. Medo de abandonarem as
suas convicções. De perderem a sua independência e tudo aquilo que conquistaram.
Medo de partilhar, de ceder, de aprenderem a estar numa relação. Nesta
aprendizagem não há notas nem professores, mas há chumbos que causam muito dano
e dor.
Aqueles que acabaram
de sair de uma relação
Muitas das pessoas passam uma
espécie de “período de luto”. Tempo para parar, pensar, analisar. Muitos, de
coração partido e com níveis de confiança em baixo, têm medo de se voltar a
apaixonar, de voltar a sofrer. Deixam de confiar nas pessoas. Já tentaram, não deu certo, e formulam
generalizações “são todos/as iguais”. Medo de voltar a construir castelos para
virem a descobrir, que na verdade, esses castelos são de areia e serão
arrasados com a próxima onda. O pânico de voltarem a investir numa relação que
não deu em nada. O terror de plantar semente em solo infértil. Todo um
investimento que não deu frutos. Dizem que a bolsa é instável, algumas relações
conseguem ser mais. Criam defesas e barreiras muito difíceis de transpor.
Por um outro lado, muitos desenvolvem
o pânico de não saber estar sem ninguém. E aí nascem algumas das figures
tristes, como aquelas pessoas que andam claramente “à caça”. O querer apressar
as coisas e atirar em tudo quanto mexe, em todas as direcções. No fundo,
começar a investir em várias coisas ao mesmo tempo, sem, de facto, investir em nada
em concreto.
As pessoas que estão
numa relação
O medo da traição, quer seja descoberta
ou admitida por quem traiu. De sentir a dor do engano, a perda de confiança, o desvanecer
da relação. Algumas pessoas conseguem perdoar, outras apenas esquecer e outras
ainda, não conseguem lidar com a situação.
O medo de ser abandonado/a, de
ouvir as palavras “já não dá”. Resumindo, o medo de que o idílio acabe. O medo
do “precisamos de um tempo”, a mentira branca para camuflar o mal.
O terror das discussões e o
terror que as discussões geram. As palavras ditas que, quais lâminas aguçadas,
trespassam e coração e dilaceram-no. As coisas que são ditas sem pensar e que
geram terror, na parte que as ouve e na parte que as proferiu, muitas vezes
arrependida. As confusões, os mal-entendidos que vão crescendo, gerando rancor,
qual semente do mal, proliferando sem pedir licença. Já dizia Eugénio de
Andrade “São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio.” O terror de não
poder voltar atrás e mudar o que foi dito.
Em relações fracturadas e fracas,
existe, muitas vezes, o terror de mudar, de encerrar o capítulo e de partir
para outra. Ou seja, o conformismo. Não se ter coragem de admitir que não é
aquilo que se quer e de lutar por ser feliz. Então, surgem as relações
esgotadas, cansadas, mas que convém, que dão jeito. O amor em pijama. Está lá,
a tentar não incomodar, a tentar tornar o desconforto confortável. A enganar, a
tentar convencer que é aquilo que se quer e que vai funcionar. E passam dias,
meses, anos, neste conformismo desconformado. Porque o terror de deixar tudo
para trás e procurar é grande. Largar algo que se conhece pelo desconhecido
absoluto não é para todos. Que o digam os Portugueses e o Adamastor. Exige
tomates.
Muitas pessoas têm medo de ser
verdadeiramente felizes porque dá trabalho e implica bater com o nariz em
algumas portas, magoar, cair e levantar. O medo de fazer o caminho sozinho, o
caminho da descoberta e da procura. Preferem algo fácil e garantido, mesmo que
menos prazeroso.
Eu digo basta! Basta ao amor
conformista, ao desamor acomodado. Há que amar, amar perdidamente. Sentir a
fúria na pele, o estômago a revirar, feito louco. O desejo, o sangue a ferver.
As noites mal dormidas, os sorrisos misteriosos. Reclamar para nós o egoísmo de
ter um amor que nos preencha, que nos complete. Ter coragem de o admitir e de
lutar por ele. Encerrar o medo numa caixa, sem que seja preciso deitar a chave
fora. O medo é necessário para nos fazer acordar e não levantarmos demasiado os
pés do chão, numa espécie de wake-up call. O medo também é uma forma motriz, mas na maioria das vezes, congela mais do que proporciona acção.
O amor não é coisa de conto de
fadas. Está ali. Ao nosso alcance. Vamos, ao invés, deixar o medo e os monstros
para os contos, a ficção científica, para os armários e para debaixo da cama. Vamos deixar o terror para os filmes, para
as artes.
E vocês, têm medo do quê?
PS: não resisto e já que falamos de medo, aqui fica uma excelente música de uma grande banda portuguesa.
já imaginaste aquilo que faríamos se não tivéssemos medos? :)
ResponderEliminarJá e também não seria positivo. Daí a certa altura eu dizer que o medo também é uma força motriz. O pior é que muitas vezes deixamos o medo dominar. :)
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