quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Eu acredito em mulheres com 3 mamas que vivem em marte


“If you can’t believe a little in what you see on the screen, it’s not worth wasting your time on cinema.”
 - Daney, Serge



Cinema são histórias,são vidas,são pessoas,animais e tudo mais,no fundo e acima de tudo cinema é acreditar.

O meu caso amoroso com o cinema começou quando eu era uma pequena menininha toda fofinha, pequena é mentira nunca fui pequena - a julgar pela cara de dor da minha mãe quando recorda o parto e pela fotos da minha infância eu devo ter nascido já com 1.78 e já a dar para o bajolito.



Adorava! Acreditava sempre,as melhores brincadeiras que tive foram inspiradas em filmes.

À medida que crescemos e que começamos a perceber que se calhar não é bem assim,que das 300 balas que o maus disparavam e que falhavam todas o alvo, na vida real todas acertam e fazem mossa no bom da fita,pior ainda, na vida real não conseguimos distinguir o mau do pedaço só pelo levantar da sobrancelha ou pela gargalhada tenebrosa.


Deixamos de acreditar,deixámos de dar margem de manobra.


Devem estar a pensar : porra ela também só deve ver filmes de desenhos animados ou de aventuras daqueles bem cliché - enganam-se.


Mesmo nos grandes dramas,nos filmes baseados em histórias trágicas ou inspiradoras da vida real existe um a relutância em acreditar que foi mesmo assim,que aquilo é possível.


Terá a vida do Michael Oher sido assim tão inspiradora? Era ele assim tão inocente,esforçado?
A mãe era tão má? A mãe adotiva era assim tão boa pessoa? 

Temos dúvidas.Trocemos o nariz,fazemos comentários sarcásticos.


A resposta? Claro que não.


Mas é um filme,temos de dar desconto,temos de dar espaço para a liberdade artística de tornar uma relação de amizade numa rivalidade sem precedentes  só porque fica mais engraçadito assim.


Filme é dar desconto porque as vezes fica mais engraçadito assim.

A maioria das pessoas vai ao cinema para discutir se os efeitos especiais foram porreiros,se os actores foram bons e se as actrizes continuam boas,se a história é coerente, vão para criticar, (alguns fazem disso profissão,algo que eu adoraria também fazer mas pelo o que tem visto neste blog,não tenho o mínimo jeito para a coisa),isso é errado.

Não vislumbro outra forma de entrar numa sala de cinema sem ser de mente e coração abertos, prontos para conhecer uma outra história,conhecer um outro mundo ou pelo menos uma nova abordagem a vida.

Se não for por motivos profissionais,vocês devem entrar na sala como uma criança entra numa loja de brinquedos, com alegria, uma vontade enorme de explorar e uma vastidão de possibilidades à vossa frente.

Acreditem que existem fantasmas e caçadores de fantasmas, acreditem que não havia mesmo espaço para o Jack em cima da porta,acreditem que vão existir mulheres com 3 mamas a viver em marte,acreditem que duas raças de aliens usam a terra como campo de batalha,acreditem que toda a gente expressa as suas emoções através de elaborados números musicais, que os médicos conseguem sempre salvar a criancinha doente,que o puto nerd que tinham um paixoneta por vocês vai virar um bonzão e continuar perdidamente apaixonado por vocês,acreditem que a lotaria só sai a quem precisa e que os maus tem sempre o castigo que merecem.


Filmes funcionam como escape,como fuga da realidade ou como prova de que a mesma não é só dura e crua para ti,é par toda a gente todos os filmes mesmo os tão maus e parvos que vemos até ao fim só para saber como acabam, merecem que nós acreditemos.

Durante aquela horita acreditem em tudo e em qualquer coisa,deixem-se levar,não existe crise nem renda para pagar nem fome no mundo,quando acabar o filme logo podem voltar para o mundo onde o café é frio,as cuecas apertadas e os gajos bons gays.

Filme é ir dar uma volta para respirar.


P.S - Caso queiram saber qual o meu filme favorito - The Fountain do Darren Aronofsky.

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