“If you can’t believe a little in what you see on the screen, it’s not worth wasting your time on cinema.”
- Daney, Serge
O meu caso amoroso com o cinema começou quando eu era uma pequena menininha toda fofinha, pequena é mentira nunca fui pequena - a julgar pela cara de dor da minha mãe quando recorda o parto e pela fotos da minha infância eu devo ter nascido já com 1.78 e já a dar para o bajolito.
Quando era pequena todas as manhãs de sábado eram passadas a ver filmes,e durante a duração do filme eu acreditava que tudo o que via no ecrã era possível e verdadeiro, ratos falam com voz fininha e sotaque brazuca,todas as tartarugas vivem no esgoto e são aconselhadas por ratazanas com uma deficiência locomotora, grupos de miúdos que partem à busca de um tesouro acabam por encontrar um barco de piratas e os extra terrestres tem uma queda para doces,são inofensivos e engelhados e só querem mesmo é ligar para casa.
Adorava! Acreditava sempre,as melhores brincadeiras que tive foram inspiradas em filmes.
À medida que crescemos e que começamos a perceber que se calhar não é bem assim,que das 300 balas que o maus disparavam e que falhavam todas o alvo, na vida real todas acertam e fazem mossa no bom da fita,pior ainda, na vida real não conseguimos distinguir o mau do pedaço só pelo levantar da sobrancelha ou pela gargalhada tenebrosa.
Deixamos de acreditar,deixámos de dar margem de manobra.
Devem estar a pensar : porra ela também só deve ver filmes de desenhos animados ou de aventuras daqueles bem cliché - enganam-se.
Mesmo nos grandes dramas,nos filmes baseados em histórias trágicas ou inspiradoras da vida real existe um a relutância em acreditar que foi mesmo assim,que aquilo é possível.
Terá a vida do Michael Oher sido assim tão inspiradora? Era ele assim tão inocente,esforçado?
A mãe era tão má? A mãe adotiva era assim tão boa pessoa?
Temos dúvidas.Trocemos o nariz,fazemos comentários sarcásticos.
A resposta? Claro que não.
Mas é um filme,temos de dar desconto,temos de dar espaço para a liberdade artística de tornar uma relação de amizade numa rivalidade sem precedentes só porque fica mais engraçadito assim.
Filme é dar desconto porque as vezes fica mais engraçadito assim.
A maioria das pessoas vai ao cinema para discutir se os efeitos especiais foram porreiros,se os actores foram bons e se as actrizes continuam boas,se a história é coerente, vão para criticar, (alguns fazem disso profissão,algo que eu adoraria também fazer mas pelo o que tem visto neste blog,não tenho o mínimo jeito para a coisa),isso é errado.
Não vislumbro outra forma de entrar numa sala de cinema sem ser de mente e coração abertos, prontos para conhecer uma outra história,conhecer um outro mundo ou pelo menos uma nova abordagem a vida.
Se não for por motivos profissionais,vocês devem entrar na sala como uma criança entra numa loja de brinquedos, com alegria, uma vontade enorme de explorar e uma vastidão de possibilidades à vossa frente.
Acreditem que existem fantasmas e caçadores de fantasmas, acreditem que não havia mesmo espaço para o Jack em cima da porta,acreditem que vão existir mulheres com 3 mamas a viver em marte,acreditem que duas raças de aliens usam a terra como campo de batalha,acreditem que toda a gente expressa as suas emoções através de elaborados números musicais, que os médicos conseguem sempre salvar a criancinha doente,que o puto nerd que tinham um paixoneta por vocês vai virar um bonzão e continuar perdidamente apaixonado por vocês,acreditem que a lotaria só sai a quem precisa e que os maus tem sempre o castigo que merecem.
Filmes funcionam como escape,como fuga da realidade ou como prova de que a mesma não é só dura e crua para ti,é par toda a gente todos os filmes mesmo os tão maus e parvos que vemos até ao fim só para saber como acabam, merecem que nós acreditemos.
Durante aquela horita acreditem em tudo e em qualquer coisa,deixem-se levar,não existe crise nem renda para pagar nem fome no mundo,quando acabar o filme logo podem voltar para o mundo onde o café é frio,as cuecas apertadas e os gajos bons gays.
Filme é ir dar uma volta para respirar.
P.S - Caso queiram saber qual o meu filme favorito - The Fountain do Darren Aronofsky.
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